quinta-feira, 2 de julho de 2015

A CONFISSÃO À MAAT


Relembrando o Antigo Egito


No "Livro dos Mortos", obra egípcia mitológica, datada de 40 séculos a.C. , a alma do falecido era levada à "Sala da Verdade e da Justiça", onde frente a Maat, a deusa da verdade e da justiça, expunha o seu coração, que era pesado em uma balança para aquilatar sua vida terrena.
Ali, com o coração exposto, ele era obrigado a confessar seus feitos na terra e, adentrando o recinto e encarando a face da Deusa e dos que a rodeavam, dizia:
"Salve, grande deusa, Senhora da Verdade e da Justiça, Ama poderosa: eis-me chegado diante de ti! Deixa-me, pois, contemplar tua radiante formosura! Conheço teu Nome mágico e os das quarenta e duas divindades que te rodeiam na vasta Sala da Verdade no dia em que se presta conta dos pecados diante de ti e de Osíris; o sangue dos pecadores (sei também) lhes serve de alimento. Teu Nome Osiris é: "O-Senhor-da-Ordem-do-Universo-cujos-dois-Olhos-são-as-duas-deusas-irmãs". Eis que trago em meu Coração a Verdade, pois que arranquei dele todo o mal".
A partir de então confessava seus pecados e seus atos.

Confissão a Maat
Adaptação versificada de Fergi Cavalca

Entrando na sala do direito
Para confessar os meus pecados
Trago no meu peito algum defeito,
E remorsos na mente arquivados.

E olhando a tua formosura
Entrego-me, Deusa, ao teu juízo,
E peço também tua brandura,
Meu caminho até o paraíso.


Grande Deusa de toda a Verdade,
Estou contrito à tua frente;
Já despido de qualquer vaidade
Às tuas Leis vou estar presente.

Já faz muitos anos te conheço;
Em tua Fé eu comungo agora;
Quarenta e dois nós que não esqueço
Esperam na derradeira hora.

Continuas no meu pensamento
E contigo eu venho comungar.
Deusa faz brilhar o firmamento
Dessa noite escura e sem luar.

Por ti destruí toda maldade
Que existia no meu coração.
Jamais fiz mal à humanidade
Ou à família, a quem dei o pão.

Em prol da justiça, da verdade,
Não forjei o mal em minha vida;
Nem compartilhei indignidade
Mesmo na hora mais sofrida.

Não pedi para ser o primeiro;
Não forcei trabalho em meu favor;
E nas honras fui o derradeiro;
Dos pobres não despojei labor.

Nem por mim ninguém já passou fome;
Tampouco já fiz alguém chorar;
Não sofreu por mim bicho ou homem
E ao Templo jamais fui desfalcar.

Não roubei em pesos e medidas
Que driblassem o pobre comprador.
Invasão de terras e outras lidas
Ou fatos que burlassem vendedor;

Não furtei o leite das crianças,
Nem água de seu leito desviei;
Não neguei do fogo abastanças...
E a Amon eu nunca reneguei

Resta-me afirmar neste momento:
Puro, puro, puro me mantenho.
Do Sagrado Templo o cumprimento
Das benesses divinas, desempenho.

Afasto-me do mal desse mundo,
Pois conheço as Leis do Criador
Arrenego tudo que é imundo
Para viver a vida com amor.

E agora perante essa balança
Onde te entrego o meu coração
Tenho, ó Deusa, uma esperança,
 Repousando na Tua mansão.