Dias D’Ávila.
Por Fernando Gimeno
Introdução
Depois de tanto tempo
decorrido desde a emancipação do município de Dias D’Ávila, a memória dos fatos
vai ficando cada vez mais distante, fraca e perdida, nos meandros do passado.
Hoje (2017) temos apenas
três pessoas na cidade que participaram efetivamente de todo processo
emancipatório que se arrastou por mais de cinco longos e exaustivos anos. Tempo
árduo nos quais os ativos e incansáveis heróis da Sociedade Amigos de Dias
D’Ávila percorreram os gabinetes e repartições do governo alisando os bancos do
poder atrás do sonho de criar uma cidade, provando dessa forma, que sonhos
podem sim, transformar-se em realidade.
E por esse feito, após legarem
para a posteridade uma cidade que se encontra entre as grandes estrelas da
constelação baiana, em lugar de reconhecimento recebem críticas, ataques e
difamações de alguns que teimam em ver na emancipação material de segunda, cuja
finalidade serve, apenas, para suprir seus anseios políticos. Ainda bem que isso
surge através de uma minoria que se apoia em posicionamentos pessoais;
pensamentos, aliás, que toldam a visão tal e qual os antolhos o fazem com
azêmolas teimosas.
O pior é que essas críticas
vêm na maior parte, através de pessoas que não residiam por aqui naquela
época... ou que residiam, mas por opção ou omissão não participaram... e
outras, ainda, que inventaram estórias a seu bel prazer a fim de
modificarem a história para que essa lhes seja conveniente e
caiba dentro de seus incomensuráveis egos, pois como diz o jargão popular “o
invejoso emagrece de ver a gordura alheia”.
Como sou um dos remanescentes
junto com Gilson Galvão de Souza e José Osmar Muricy Sampaio, propus-me a
contar aquilo que sei do processo do qual participei ativamente desde o seu
principio até o desfecho final. Farei, então, um breve relato; mas para isso
preciso voltar no tempo para estabelecer uma linha que nos dê a possibilidade
de revermos as origens de nosso município.
Primórdios
Logo após o descobrimento, Portugal
dividiu a nova terra em grandes porções que iam do litoral ao interior e
distribuiu-as entre seus fidalgos para cultivá-las de forma a fixar o progresso
e produzir riquezas para a coroa. Foram as capitanias hereditárias, modelo que
havia dado bons resultados na Ilha da Madeira e se pretendia que repetisse seus
efeitos benéficos e suas implicações nas terras d’além mar.
Na Bahia, como na maior parte do
Brasil, tal protótipo havia sido um completo fracasso. O antigo donatário da
Capitania, Francisco Pereira Coutinho, homem de “maus bofes”, violento e rude,
fundara uma pequena aldeia na Ponta do Padrão que se estende ao mar — onde
atualmente está instalado o Farol da Barra — e batizou-a como Vila do Pereira;
isso se deu em dezembro de 1536.
Mas os portugueses, tanto o Pereira
que era o proprietário da sesmaria, quanto os colonos que habitavam a vila eram
cruéis em demasia com os indígenas da tribo Tupinambá, silvícolas que ocupavam
todo o território das Capitanias da Bahia. Isso, com certeza, resultava num
frequente levante dos índios que culminou, em 1545, com a destruição da Vila do
Pereira e a fuga do donatário Francisco Pereira Coutinho para a Capitania de
Porto Seguro, ao sul.
Um ano mais tarde Pereira Coutinho
tentou voltar para suas terras, mas naufragou próximo à Ilha de Itaparica e foi
capturado sendo, posteriormente, devorado pelos Tupinambás que adoravam ter
carne fresca de portugueses em sua dieta.
Com a morte de Pereira Coutinho que
não deixou herdeiros, a Capitania da Bahia voltou à Coroa Portuguesa e foi
escolhida por D. João III, rei de Portugal, para sediar o governo que ele pretendia
implantar no Novo Mundo. Naquela época as costas brasileiras eram muito
visadas, principalmente pelos franceses que extraiam o Pau Brasil para vendê-lo
com grande lucro no mercado europeu, visto a grande utilidade de tal produto no
fabrico de corantes.
E aí chega a vez de Tomé de Souza.
Segundo fontes históricas, este
fidalgo era descendente de Martim Afonso Chichorro[1]
e filho bastardo do prior de Rates, João de Sousa, e Dona Mécia Rodrigues de Faria. Martim
Afonso Chichorro era um homem rico e nobre da casa real portuguesa, tendo sido governador de Chaves. Casou-se com D. Inês Lourenço de
Sousa, filha de Lourenço Soares de Valadares, senhor de Tangil,
fronteiro-mor de Entre Douro e
Minho, e de sua mulher D. Maria Mendes de Sousa, filha de Mem Garcia de
Sousa e de D. Teresa Anes de Lima, em que estava a primogenitura dos Sousas. Martim Afonso Chichorro é o tronco da família dos
Sousas da Casa dos Marqueses das Minas[2].
Tomé de Sousa
foi o primogênito de João de Sousa, abade de Rates, lugarejo cerca de cinquenta
quilômetros acima do Porto. João de Souza que seguiu a vida eclesiástica usufruiu
de momentos muito mais materiais e dissolutos do que espirituais, pois teve com
Mécia Rodrigues de Faria, mulher nobre dos Farias de Barcelos, mais de dez
filhos. Em Rates, Tomé de Sousa foi o primeiro titular da comenda da Ordem de Cristo em 1517. Foi ainda comendador de Rates e de Arruda.
Criado o governo geral como forma de incrementar a presença estatal
portuguesa no Brasil e apoiar os donatários das outras capitanias, o Rei nomeou
Tomé de Souza governador-geral com amplos poderes para consertar a colônia que
se encontrava em estado extremo de desorganização. O novo governador trouxe com
ele as credenciais que compunham o Regimento
de 17 de dezembro de 1548, com orientações precisas sobre a organização do
poder público — fazenda, justiça, defesa, ordens expressas para fundação de uma
capital e poder de decisão sobre temas relevantes, como as relações com os
indígenas e sua catequese e o estímulo às atividades agrícolas e comerciais.
Para dar
cumprimento às ordens reais, o Governador-geral trouxe consigo uma armada importante
constituída por três naus, duas caravelas e um bergantim, além de algumas
embarcações para transportar o Pau Brasil traficado para o velho continente.
Estima-se que chegaram com o
governador cerca de mil almas, entre soldados, profissionais de serviço,
jesuítas com a missão de catequizar os indígenas... esses últimos comandados
pelo padre Manoel da Nóbrega; vieram ainda degredados e peões para o trabalho
pesado no Novo Mundo.
Dentre as ordens do rei figurava
também a fundação de uma cidade. Tomé de Souza desembarcou na Ponta do Padrão
onde outrora florescera a Vila do Pereira e, a vinte e nove de março de 1549,
fundou Salvador, que já nasceu com o status de cidade, capital, comarca e sede
do governo da província.
Desde sua descoberta em 1501, a Baia
de Todos os Santos era considerada ponto estratégico devido ao seu
posicionamento geográfico e ao escoamento do pau Brasil muito abundante pelas
cercanias. Mas o principal fato que dava à região uma vantagem era a fixação de
um ponto de apoio aos portugueses. Para cumprir tal objetivo foi de fundamental
importância a presença do Caramuru, um português ligado aos Tupinambás que, por
entender o dialeto indígena fazia o papel de intérprete ou, como se falava na
época “lengoa”, fato que facilitava
muito a comunicação entre as duas raças.
Diogo Álvares Correia, o Caramuru.
Quase todas as enciclopédias,
compêndios de história e referências à colonização brasileira passam
invariavelmente pela figura de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Existem
muitas lendas ligadas à presença deste personagem entre os índios do Brasil.
O navio em que Diogo viajava por volta
de 1509[3],
naufragou próximo à Baia de Todos os Santos, na região da Maraquita — mais ou menos em frente ao local onde atualmente se
encontra o Largo da Mariquita, no Rio Vermelho. Diogo e mais alguns náufragos
conseguiram alcançar a terra, mas seus companheiros foram mortos — e
possivelmente devorados — pelos ferozes Tupinambás, que eram, na verdade, os
donos da terra.
Conta-se que o apelido Caramuru veio
porque, apavorado com a iminente prisão pelos indígenas, Diogo escondeu-se nos
recifes da costa. Lá os índios o acharam, pálido de medo e ao verem seu rosto
entre as pedras riram-se muito e logo o apelidaram Caramuru, palavra que
nominava a moreia, peixe que se esconde nas pedras. Outra lenda diz que Diogo
estava na praia com uma escopeta salva do naufrágio e atirou em um pássaro. Os
índios que presenciaram esta cena imediatamente gritaram Caramuru, que também
pode significar filho do trovão.
O fato é que Caramuru foi aceito entre
os Tupinambás e tornou-se de grande importância na colonização do Brasil. Após
algum tempo casou-se com Paraguaçu ou Guaibim-Pará (Mar Grande), a filha do
morubixaba Taparica. Com ela teve filhos e filhas dos quais provém a maior
parte das famílias brasileiras.
Caramuru facilitava o contato entre os
europeus e brasileiros, principalmente franceses que vinham atrás do pau
Brasil, riqueza da qual nossa terra era bastante espoliada a ponto de ter seu
nome mudado de Terra de Santa Cruz para Brasil. Essa relação com os franceses fez
com que Jaques Cartier, corsário francês — que mais tarde viria a descobrir o
Canadá — o levasse e à índia Paraguaçu para a Europa, entre 1526 e 1528, onde,
em Saint-Malo, na França os dois uniram-se em matrimônio. Paraguaçu foi
batizada como Catherine Du Bresil, em
homenagem à madrinha Catherine de
Branches[4],
esposa de Jaques Cartier. Na volta ao Brasil ficou conhecida como Catharina
Paraguaçu Caramuru.
Aqui vale a pena criarmos um espaço
para falar dessa figura notável que foi Catharina Paraguaçu. Para tanto nos guiamos
numa viagem através do texto da obra “Diogo
Alvares, o Caramuru, de Ubaldo Marques Porto Filho”. Nela nos inspiramos
para uma narrativa livre e adaptada, um pequenino resumo, não literal, porém em
conformidade com o original:
A lenda conta que em 1535, Catharina Paraguaçu, que
era dada a visões e presságios, principalmente em relação a náufragos na costa,
teve, em sonho, a visão de uma mulher branca com uma criança no colo que lhe
solicitava uma ajuda, dizendo que se achava em uma embarcação que naufragara
nas proximidades da costa. Baseados nisso, pois tanto Taparica quanto o
Caramuru confiavam cegamente nas profecias da índia, foram direcionadas
diversas buscas pelo litoral, desde o Rio Vermelho até à entrada da barra e a
costa da ilha de Itaparica; nada foi encontrado!
Catharina voltou a ter o mesmo sonho e Caramuru
saiu para novas explorações, dessa vez no litoral sul. Na Ilha de Boipeba,
deparou-se com 17 sobreviventes da nau Madre
de Dios, que afundou em maio de 1535, nas proximidades de um local que
ficou conhecido como Ponta dos
Castelhanos. Mas os náufragos informaram-lhe que na embarcação não viajava
nenhuma mulher.
Retornando para casa a esposa insistiu que ele
voltasse ao local do naufrágio e procurasse novamente. Nessa segunda visita aos
restos da nau foi achada entre os destroços uma imagem de madeira de Nossa
Senhora com o Menino Jesus nos braços. Quando Caramuru chegou com tal objeto,
Catharina imediatamente reconheceu a imagem como a da mulher por ela vista nos
sonhos.
Atendendo a mais um pedido da esposa, Caramuru
construiu uma capela de taipa, com cobertura de palha, para abrigar a imagem da
Virgem Maria. Estava assim, em 1535, erguida a primeira igreja do Brasil, onde
foi oficiada, em 31 de maio de 1549, pelos padres jesuítas da comitiva de Thomé
de Souza, uma missa que contou com a presença do governador-geral.
Catharina jamais aprendeu a falar bem o português.
Preferia comunicar-se sempre em tupi. Não demonstrava qualquer interesse pela
língua daqueles que ela considerava usurpadores das terras dos Tupinambás. Quando
esteve na França por ocasião de seu casamento e batizado, aprendeu um pouco o
francês bretão e assimilou dois hábitos do povo branco europeu: a religião
católica e o vestuário. Por tal motivo estava sempre recatadamente vestida, ao
contrário de muitas índias que continuavam adeptas da nudez total.
O amor entre Catharina e Caramuru foi decantado inúmeras
vezes como um dos mais fortes laços entre dois cônjuges de raças diferentes.
Vivia cercada por mordomias e pequenos mimos proporcionados por Caramuru. Na verdade, ela era uma índia muito especial, tanto
que, após o regresso da França, o marido não teria tido mais nenhum envolvimento
amoroso com outras índias apesar de ser um costume do povo tupinambá. É quase
certo que Caramuru realmente cumpriu os votos de fidelidade proferidos na
França, onde se casou com Catherine du Brésil no ritual católico, em solenidade
realizada em Saint-Malo.
Garcia D’Ávila, um pioneiro.
Fazia parte da comitiva do
governador-geral o jovem Garcia D’Ávila, com apenas vinte e um anos. Era filho
bastardo de Tomé de Souza, apesar de nunca ter se identificado como tal, pois
havia uma lei da coroa proibindo a qualquer capitão-mor ou governador de doar
sesmarias a seus familiares.
Em primeiro de junho de 1549, Garcia
D’Ávila foi nomeado por Tomé de Souza “feitor
e almoxarife da cidade de Salvador e da alfândega”. Era um cargo sem
remuneração arriscando-se o serventuário a viver dos “azares” do negócio, de
acordo com perdas e lucros que pudesse vir dali. No dia quinze de junho o jovem
almoxarife recebeu seu primeiro pagamento: duas vacas no valor de quatro mil
reis. Essas vacas tiveram na vida de Garcia D’Ávila o efeito multiplicador
semelhante à moeda número um do personagem dos quadrinhos da Disney, tio
Patinhas.
Garcia trabalhou duro na construção da
cidade do Salvador e instalou um curral na península de Itapagipe com o intuito
de abastecer de carne a cidade nascente. Em paga de seu inegável esforço em
prol da cidade, Tomé de Souza doou-lhe quatorze léguas de sesmaria que iam
desde Itapuã até a foz do Rio Real e a ponta de Tatuapara onde, num
promontório, erguia-se uma pequena fortificação. Ali naquele local, cercado de
indígenas hostis, Garcia D’Ávila, após vencer os selvagens, ergueu a sua “Casa da Torre”, em 1550, uma fortaleza
feita com pedras e rejuntada com argamassa de calcário e óleo de baleia. Suas
ruínas persistem até hoje no município de Mata de São João, na Praia do Forte,
tombadas pelo Instituto Geográfico e Histórico de Salvador.
Em 1557, Garcia era o homem mais poderoso da
Bahia. Bandeirante audaz foi aumentando o feudo no qual estabeleceu o regime de
“morgadio” frequente em Portugal, que determinava como herdeiro o filho
primogênito. No final do século XVI, já era proprietário do maior latifúndio do
Brasil e suas terras imensuráveis iam, desde o rio Itapicuru, ao norte, até o
rio Jacuípe ao sul. Seu herdeiro foi seu
neto Francisco Dias d’Ávila Caramuru, primogênito de sua filha Isabel D’Ávila
nascida de sua união com a índia Francisca Rodrigues; Isabel casou-se com Diogo
Dias, filho de Vicente Dias e Genebra Álvares e
neto de Caramuru e Paraguaçu[5]. Da saga de Caramuru originou-se a primeira família brasileira
documentada; essa família entrelaçou-se na progênie de Garcia D'Ávila com a
índia Francisca Rodrigues e na sucessão de Jerônimo de Albuquerque com a índia
Muira-Ubi, batizada como Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seus herdeiros e
sucessores vincularam-se à nobreza dos Pereiras e dos Marinhos, aos
descendentes de Domingos Pires de Carvalho casado com Maria da Silva, à geração
de Felipe Cavalcanti casado com Catharina de Albuquerque e com a descendência do
casal José Pires de Carvalho e Tereza Vasconcellos Cavalcanti de Albuquerque,
dando origem a boa parte da população nordestina e a algumas das mais
importantes famílias da Bahia e do Brasil, com prolongamentos nas cortes
europeias e na Casa Imperial Brasileira[6].
Como
exemplo, desse entrelaçamento com a coroa vimos no século XIX, Joaquim Pires de
Carvalho e Albuquerque, que na época da Independência do Brasil, recebeu de D.
Pedro I o título nobiliárquico de primeiro e único Visconde de Pirajá, pela sua
participação como comandante das forças da resistência baiana ao domínio
Português. Ao mesmo tempo seu irmão Antonio Joaquim Pires de Carvalho, morgado
do Castelo da Torre, foi agraciado com título de Barão da Torre. Uma
curiosidade interessante: as duas principais avenidas do famoso bairro de
Ipanema, no Rio de Janeiro, chamam-se Barão da Torre e Visconde de Pirajá.
A
“Casa da Torre” expandiu-se e virou um imenso feudo, talvez o maior latifúndio
do qual se tenha notícias no Brasil; sua saga encontra-se descrita por vários
historiadores brasileiros, principalmente Pedro Calmon, que relata a história
da família D’Ávila e de seus descendentes.
Este
castelo situava-se em um promontório dominando o mar na ponta de Tatuapara que
ficou conhecida, em sua homenagem, como a Praia do Forte, nome que perdura até
hoje fazendo parte do município de Mata de São João.
A
Companhia de Jesus, da qual faziam parte os padres jesuítas, foi fundada na
Espanha por Inácio de Loiola em 1534 e aprovada pelo papa Paulo III em 1540. A
Ordem em pouco tempo tornou-se uma potência capaz de fazer sombra a até mesmo ao
papa — o prior dos jesuítas chegou a ser cognominado o “papa negro” devido ao imenso poder que representava no século XVIII
em vários países da Europa, inclusive Portugal[7].
Em
1549 o Rei D. João III ordenou a vinda dos primeiros padres que desembarcaram
com Tomé de Souza, liderados por Manuel da Nóbrega. O maior objetivo era
catequizar os índios, uma das obras a que o Rei dava prioridade, pois isso
atenderia os propósitos colonizadores e, ao mesmo tempo, garantia uma sociedade
religiosa bastante conveniente ao intuito das cortes de além-mar.
Muitos
jesuítas vieram para o Brasil, entretanto os mais famosos foram Manoel de
Nóbrega vindo com Tomé de Souza, José de Anchieta que chegou ainda noviço com
Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, e o padre Antônio Vieira que veio
muito jovem de Portugal e ordenou-se já morando na Bahia.
Nossa
narrativa, entretanto, vai preocupar-se mais com os Jesuítas anônimos que
adentraram o sertão baiano para cumprir suas obrigações de catequese. Por outro
lado, muitos colégios fundados pelos Jesuítas permanecem até hoje, como o
Colégio Antônio Vieira, em Salvador.
Trazer
os índios para a “verdadeira” fé cristã era complicado. Foi uma tarefa difícil
para os padres passarem por cima de costumes arraigados dos indígenas,
principalmente de pontos de enormes choques de costumes, tais como a nudez, a
antropofagia e a poligamia entre outros.
Casa da Torre de Garcia
D’Ávila – Ruinas tombadas.
Na Bahia os catequizadores adentravam o
sertão nos rastros dos bandeirantes da “Casa da Torre” que iam desbravando as
terras que atravessavam o São Francisco e avançavam até as fronteiras do Piauí;
esse caminho ficou mais tarde conhecido como “Caminho da Boiada”. Essa entrada
dos padres para o sertão era árdua e penosa. Entrava-se pela localidade chamada
“Portão”, na foz do rio Joanes, nome que persiste até hoje. As excursões pelo
interior do Brasil no século XVI eram assaz complexas e por isso fazia-se
necessário houvesse paradas e pontos de apoio para descanso e recuperação de
forças na arriscada expedição em busca das tribos a serem catequizadas. Muitos
não voltavam vítimas dos inúmeros perigos e doenças a que se expunham em tal
aventura.
Por
conta dessa necessidade de apoio, os padres foram fundando povoações; em 1558
criaram a aldeia do Divino Espírito Santo
às margens do Joanes, que congregava vários índios tupinambás ao redor de
uma igreja de taipa, sob o comando do padre João Gonçalves. Essa aldeia foi o
primeiro núcleo que, mais tarde deu origem ao município de Camaçari.
Mais
ao norte, dentro das terras pertencentes ao Castelo da Torre os padres estabeleceram
outro entreposto de descanso à beira do riacho Imbassay, que foi batizado Santo
Antônio de Capuame; nesse sítio os catequizadores faziam pouso e se abasteciam
de água para fazer face às agruras da perigosa incursão pelo sertão.
Ali,
devido à excelente qualidade das águas e das lamas daquele arroio que, já
naquela época, revelavam suas propriedades curativas e medicinais, floresceu o
povoado de Santo Antônio do Capuame[8]. O fato
é que o arraial de Santo Antônio de Capuame passou a ser usado como parada
obrigatória, tanto na ida quanto na vinda, pelas comitivas que se aventuravam
pelo nordeste e iam para lá do São Francisco a fim de escravizar índios e
trazer gado.
Este
arraial, mais tarde tornou-se um entreposto e era lá que os boiadeiros chegados
do interior trazendo o gado — principalmente as reses de propriedade da “Casa
da Torre” com destino aos currais de Itapagipe —, descansavam da extenuante
viagem; evidentemente realizava-se no arraial negócios de compra e venda de
gado e logo se estabeleceu um comércio, ou melhor, uma importante feira; nela
animais que iriam suprir o mercado de carne de todo o litoral baiano eram
vendidos, comprados ou trocados; muitas mercadorias do sertão — e também da
capital — eram negociadas, tornando-se a feira local importante para a economia
regional e intensamente procurada por fazendeiros tanto para adquirir como para
vender suas reses.
No início
do século XIX, o arraial passou a se chamar “Feira Velha do Capuame” ou,
simplesmente, “Feira Velha”.
Feira velha
Feira Velha assumiu grande importância durante as guerras da
Independência, visto sua localização estratégica como feira e entreposto de
comércio para as mercadorias que vinham do interior com destino a Salvador.
A Bahia — e principalmente Salvador — não reconheceu a independência proclamada
por D. Pedro I a 7 de setembro de 1822.
No início desse ano, D. João VI, rei de Portugal, substituiu o
brasileiro Manoel Guimarães do comando da cidade pelo general português Madeira
de Melo.
Esse general, homem autoritário e cruel, exibia um patriotismo fanático,
tinha ordens de reprimir usando de todos os artifícios e até mesmo da violência
extrema, qualquer arroubo de revolta esboçada pelos baianos, pois a população
já vivia insatisfeita com o domínio português.
Não aceitando a substituição de um brasileiro por um português, o povo
ganhou a rua exibindo seu protesto. Na busca para capturar os rebelados que
entraram pelo Convento da Lapa à procura de abrigo, os soldados foram detidos
pela Madre Superiora sóror Joana Angélica que barrou a sua entrada no claustro.
Enfurecidos atacaram a madre prostrando-a com golpes de baioneta.
A morte dessa primeira mártir pela causa da independência não intimidou
os baianos: em 12 de junho de 1822 a Câmara de Salvador tentou um rompimento
com a coroa portuguesa durante uma sessão legislativa. Imediatamente o General
Madeira de Melo invadiu a Câmara impedindo a sessão. As tropas portuguesas vão,
então, para as ruas e ameaçam a população que se junta em protestos contra
Portugal.
Em 25 de junho a Vila de Cachoeira rebela-se e rompe com o reino. Dois
dias depois chega a vez de Santo Amaro seguir o mesmo caminho. Os vereadores
rebeldes declaram D. Pedro, então Príncipe Regente, o defensor perpétuo do
Brasil; convém ressaltar o ingente exemplo da maçonaria que já havia se declarado
a favor da independência da colônia através de Gonçalves Ledo, primeiro
Vigilante da Loja Comércio e Artes, de Niterói, proclamando, no dia 20 de
agosto de 1822 o rompimento definitivo com Portugal.
Entretanto, na
Bahia, Cachoeira torna-se o quartel general do exército libertador. Nesta época
Vila Velha desempenhou importante papel nas guerras da independência,
justamente por causa do comércio de gado. A vila era um ponto importante para o
planejamento e apoio das valorosas tropas brasileiras favoráveis ao Imperador e
que iam combater os portugueses; por conta de sua posição privilegiada impediu
o abastecimento da capital deixando o general português Madeira de Melo sem
carne e outros tantos produtos que passavam por aquele sítio estratégico. Com
isso a vila contribuiu, e muito, com a consolidação da independência. Esse
boicote de gêneros de primeira necessidade enfraqueceu e debilitou o exército
português, possibilitando a vitória brasileira e a consolidação de nossa independência,
visto que, por mar, João das Botas e sua frota de saveiros fustigavam os
lusitanos que ficaram à míngua passando privações pela escassez de gêneros
alimentícios.
Finalmente
a dois de julho de 1823, após a vitória na batalha de Pirajá, na colina
denominada Morro dos Cabritos onde, graças a um corneteiro esperto — ou
trapalhão, não sei, — que tocou avançar em lugar de retirada confundindo os
portugueses que ganhavam terreno e dando alento aos brasileiros que
transformaram uma derrota certa em vitória épica.
Foi
neste período que surgiu a figura de Santos Titara, nascido na Feira Velha e
autor da letra do “Hino ao Dois de Julho”, composição que se tornou o Hino
Oficial da Independência da Bahia.
Também
os fidalgos da Casa da Torre, Joaquim Pires de Carvalho e
Albuquerque, agraciado com o título de Visconde
de Pirajá; Francisco
Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque,
agraciado com o título de Barão
de Jaguaripe; e Antônio Joaquim Pires de Carvalho e
Albuquerque, agraciado com o título de Barão e depois Visconde da Torre de Garcia d'Ávila.
Feira
Velha continuou sendo o principal entreposto comercial da região até que a
feira foi, aos poucos, migrando para o município de Feira de Santana. Hoje a
“Princesa do Sertão” é um dos maiores centros comerciais do nordeste
brasileiro.
Estação ferroviária da Feira Velha.
Feira
Velha pertencia administrativamente ao município de Mata de São João. Em 1863
foi inaugurada a linha férrea ligando a estação da Calçada, bairro de Salvador,
a Alagoinhas. A administração da linha era feita pela Estrada de Ferro
Bahia/São Francisco; em 1911 passou a fazer parte da Cia. Chemins de Fer Federaux Du L’Est Brasiliens de capital
francês, encampada em 1935 pela Estatal Viação
Ferroviária Federal Leste Brasileiro que passou, a partir de 1975 a compor Rede
Ferroviária Federal (RFFSA). O último trem de passageiros circulou entre a
Calçada e Alagoinhas no início dos anos 80. A partir daí apenas cargas e
graneis líquidos ainda passam pela antiga estação.
Borges de Barros
Quando fomos pesquisar a vida de Francisco Borges de Barros,
deparamo-nos uma falta de informações muito grande. Infelizmente percorremos
várias fontes com pouco êxito. Mesmo como membro da Loja de Pesquisas Maçônicas Francisco Borges de Barros, quando
procurei prestar uma homenagem ao excelso fundador da Grande Loja Maçônica
Unida da Bahia, esbarrei no pobre conteúdo para uma figura de tão grandes
proporções no cenário histórico de nosso estado.
Francisco Borges de Barros
Do que podemos inferir, sabemos que foi diretor do Arquivo Público e do
Museu do Estado da Bahia entre 1918 e 1930 e que dirigiu o Instituto Geográfico
e Histórico da Bahia.
Autor de um importante livro, Bandeirantes
e Sertanistas Baianos, escrito em 1919, livro este que tem a primazia de
ser a primeira obra escrita sobra a Casa
da Torre, e que exibe uma coletânea de textos sobre o papel dos
bandeirantes baianos na conquista do sertão nordestino onde a Casa da Torre e
os Ávila fazem parte da história.
Francisco Borges de Barros não escreve literalmente a saga da família
Ávila, mas reportou vários trechos que, segundo ele próprio, poderiam servir a
um escritor para fundamentar tão interessante tema. Ele assim nos descreve:
“...são lendas e tradições que atravessando
os séculos, reclama o pulso de escritor que as revigore no romance e na
epopeia. Digno do mais acurado estudo é ― esse velho baluarte como também o é ―
o de sua conservação como um dos maiores monumentos deixados por nossos antepassados...
”
Na verdade, Borges de Barros embora não tenha escrito uma obra
sistemática sobre a Casa da Torre trouxe a luz importantes documentos que
serviram para divulgar ainda mais a fama da família Ávila na conquista dos
sertões nordestinos.
Nosso historiador, em 1923 escreveu uma exposição detalhada de
motivos enviada à Assembleia Legislativa da Bahia visando a troca de nomes de
Feira Velha para Dias D’Ávila.
Borges de Barros apresentou as justificativas para permuta e
conseguiu seu intento quatro anos depois, entre as gestões do governador Góis
Calmon, que deixou o governo em 1927 e Vital Henrique Baptista Soares, que
entrou em 1928.
A lei 2150, que instituiu a troca, foi publicada em 26 de abril de 1928 e, a
partir daí Feira Velha passa a chamar-se Dias D’Ávila.
Como dissemos, foi uma homenagem a Francisco Dias D’Ávila II,
bandeirante e morgado da “Casa da Torre”. Esse fidalgo,
neto de Garcia D’Ávila, filho de Isabel D’Ávila e Diogo Dias foi intrépido bandeirante
que descendia de Caramuru pela linha paterna; realizou muitas das ambições do
seu avô, então já velho e doente. Em testamento feito no ano de 1609 e que se
encontra no Arquivo Público do Estado da Bahia, Garcia D’Ávila arrolou os
vastos domínios que possuía, enumerando
terras que vão de Tatuapara aos vales do Tariri, Jacuípe e Itapicuru até
Sergipe de El-Rei e, segundo alguns documentos estendeu os domínios da “Casa da
Torre” até as fronteiras do Piaui, criando o maior latifundio que se tem
noticia na história do Brasil. Referindo-se a ele, Pedro
Calmon afirma que “...tangeu as pontas de
gado do Itapicuru para o médio São Francisco. Fez do boi seu soldado. Os outros
sertanistas se apossavam do país com tropas de guerrilheiros, ele o empalmou
com suas boiadas. O rebanho arrastava o homem e, atrás deste a civilização...”[9].
Atualmente
ainda se encontra fincado na plataforma da estação um pequeno obelisco
comemorativo da troca de nome da cidade, com os seguintes dísticos gravados em
uma placa:
“Campo
Histórico Dias D’Ávila – O Senado Estadual sob a Presidência do Coronel
Frederico A. Roiz da Costa, sendo Governador da Bahia o Doutor Vital H.
Baptista Soares e Secretário da Justiça o Doutor Francisco Prisco de S.
Paraíso, acolhendo o apelo do Doutor F. Borges de Barros, Diretor do Museu do
Mesmo Estado, obteve dos altos poderes da República denominar-se Dias D’Ávila
esta estação ferroviária, plantada no campo histórico da grande feira colonial
instituída pelos intrépidos bandeirantes da legendária Casa da Torre, cujos
feitos esta lápide rememora”.
8 de setembro de 1928”.
Padre Camile Torrend
Com a
transferência da feira para o município de Feira de Santana, Dias D’Ávila teve
um progresso lento até final da década de 40, quando recebeu novo impulso
devido às descobertas do Padre CamileTorrend.
Durante
os anos 40 do século XX, chegou a Dias D’Ávila o jesuíta Francês, botânico e
naturalista, padre Camile Torrend.
Misto
de cientista e religioso ele interessou-se muitíssimo pela geografia da região,
estabelecendo-se na vila de Dias D’Ávila que, naqueles tempos pertencia ao
município de Mata de São João. O padre Torrend, como era conhecido, classificou
inúmeras espécies botânicas nativas ainda não ordenadas cientificamente; em
suas investigações, reparando nas propriedades medicinais do rio Imbassay,
convenceu-se de sua propriedade terapêutica e, ao consultar antigos alfarrábios
dos jesuítas do século XVII, ajuntou informações sobre as águas do rio,
coletando-as e enviando-as para a França a fim de serem analisadas em
laboratórios europeus. O laudo trouxe o que ele esperava: As águas de Dias
D’Ávila tinham propriedades minerais e medicinais, com qualidade superior à de
Vichy, uma das mais afamadas do Velho Continente. Isto transformou a vila em
local especial de veraneio e estação de águas, tornando seu nome famoso em toda
a Bahia e em vários outros estados brasileiros.
Dias
D’Ávila constituiu-se, a partir daí, em um balneário dos mais conhecidos e agradáveis
e, por sua localização privilegiada perto da capital, encheu-se de belas
chácaras nas quais os veranistas vinham descansar da labuta estressante do
trabalho na cidade grande.
O trem
que trazia na manhã de domingo visitantes de Salvador, era chamado pelo povo de
“Pirulito”, um apelido carinhoso, já que os ambulantes transitavam pelos seus
vagões anunciavam, em algazarra, suas vendas: “olha o pirulito, olha o pirulito”... e ofereciam o doce caramelizado
e envolto em papel de seda. Todos compravam e o “Pirulito” chegava
transportando centenas de turistas e veranistas que invadiam a vila em busca de
lazer ou cura para suas mazelas... na volta, após o agradável passeio, levava o
povo em regresso à estação da Calçada; os passageiros carregavam garrafas e
garrafões de água e embrulhos contendo a lama, as famosas argilas de coloração
preta ou branca, cada uma delas usada em um tipo de terapia, principalmente
doenças de pele. As “lamas” medicinais eram famosíssimas em toda a Bahia e em
vários outros estados.
A Estância
Em
1962, durante o governo Lomanto Junior, Dias D’Ávila foi elevada à categoria de
Estância Hidromineral, com as prerrogativas que este título conferia às
localidades que o possuíam, ou seja, uma relativa independência do município
sede.
Na
época a Vila já pertencia a Camaçari após desmembramento de Mata de São João;
na verdade, não havia mais do que três a quatro mil habitantes na Estância! Ela
era um lugar calmo e próprio para se passar agradáveis férias de verão; não
tinha nenhuma infraestrutura, mas quem vinha usufruir de sua tranquilidade não
se preocupava com isso. Os moradores locais viviam de trabalhos em função da
estância, como caseiros, aguadeiros (que ofereciam água nas residências
transportadas em lombo de jegue) ou serviços intermediários. A população quase
dobrava com vinda dos veranistas, proprietários das agradáveis vivendas que se
espalhavam por ali. E muitas dessas famílias estendiam sua estadia pelos meses
de verão ou mais. À noite o povo sentava-se em cadeiras pela “calçada”, em
gostosos “bate-papos” e tocava-se violão em serenatas, principalmente nas
noites enluaradas. A estância era bucólica e deliciosa, apesar de não ter
nenhum dos benefícios modernos que a época oferecia, pois era justamente a
tranquilidade e a busca pela saúde as suas principais atrações.
Na
década de 60 foram construídos o Hotel Balneário e a fabrica de “Água Mineral
Dias D’Ávila”; o hotel, com bangalôs, piscina semiolímpica, sauna, salão de
jogos, quadra de futsal e outras comodidades, oferecia excelente estrutura
turística. Hoje sentimos imensa pena ao vermos suas dependências próximas ao
estado de ruína e, praticamente sem serventia. A fábrica possuía um belo parque
ajardinado, uma gruta com uma imagem de Nossa Senhora e uma churrascaria. Todo
esse patrimônio construído através do grande cidadão diasdavilense Carlos
Gagliano. O parque, atualmente, está abandonado e tomado pelo mato e a
churrascaria foi depredada e encontra-se em ruínas.
Agência dos Correios (no mercado municipal)
Aspecto da Praça ACM (1985)
Posto Médico (atual Hospital)
Marco da feira (atualmente não existe)
Rio Imbassay
Rio Imbassay (balneário)
A emancipação
Com a
chegada do Polo Petroquímico de Camaçari, a estância hidro-mineral foi perdendo
espaço e importância, pois os boatos de poluição e, principalmente “invasão”
por pessoas de fora quebrando a tranquilidade da vila, grassavam entre os
veranistas e proprietários de chácaras da estância. Isto trouxe desconforto
também para os moradores que viam a população aumentar indiscriminadamente e a
vila perder a qualidade de vida que era a sua marca registrada. Esse aumento
populacional trouxe uma carência efetiva, principalmente nos serviços públicos principais,
o que gerou insatisfação com a administração municipal de Camaçari.
As
belas chácaras começaram a ser alugadas como “repúblicas” para abrigar os
“peões” que chegavam para trabalhar nas inúmeras empreiteiras prestadoras de
serviço para a construção do Polo Petroquímico. Vieram também imigrantes,
ocupando cargos de chefia, provenientes de outros estados e regiões; estes
chegavam com suas famílias e se deparavam com uma vila que não cumpria mais seu
papel bucólico de estância e, ainda por cima não possuía qualquer opção de
abastecimento, armazéns, farmácias, comércio especializado, butiques e outras
lojas de conveniência que propiciam qualidade de vida a uma localidade. Não
havia água encanada, nem telefone... as compras, em geral, dependiam de
Salvador... colégio para os filhos era muito deficiente, não havia segundo
grau, somente um posto de saúde completamente desaparelhado e ineficaz, com
escassez de médicos... de professores... Enfim, Dias D’Ávila era bucólica
quando se prestava ao veraneio, mas abandonada pela administração municipal quando
se precisava morar ali... um distrito cuja a sede também passava por problemas
semelhantes aos seus. Por isso tinha dificuldade em fixar aquelas pessoas que
estavam chegando; a maioria optava por residir em Salvador, mesmo tendo que
viajar por uma estrada perigosíssima, como a BR 324, naquele tempo com apenas
uma pista e chamada “a rodovia da morte”.
No
final dos anos 70 e inicio dos 80, surgiu na estância uma associação de moradores,
denominada Sociedade Amigos de Dias D’Ávila, formada por cidadãos que queriam,
além de trazer benefícios vários para a vila, promover também a emancipação
política e administrativa do município; o objetivo era transformar Dias D’Ávila
em uma cidade próspera e independente da administração de Camaçari. Integravam
essa Sociedade, os seguintes moradores: Dr. Mozart da Cunha Pedroza, falecido;
Professora Altair da Costa Lima, falecida; Lucas Evangelista dos Santos,
falecido; professor Batista Neves, falecido; deputado Clodoaldo Campos,
falecido, Flávio Cavalcante de Oliveira, falecido; Mário dos Santos Padre,
falecido; professora Laura Folly, (?); Fernando Gimeno, José Osmar Muricy
Sampaio e Gilson Galvão de Souza; estes três últimos os remanescentes vivos da
Sociedade Amigos de Dias D’Ávila residentes na cidade; sem nenhuma dúvida a
Sociedade foi a grande antena captadora dos anseios populares pela emancipação.
Esse desejo estava latente no povo, embora não aflorasse dele à primeira vista.
As
primeiras conquistas da Sociedade, foram a implantação da 25ª DP, delegacia com
as mesmas prerrogativas daquelas da capital, fato que, na década de 70 era
bastante incomum nas cidades interioranas de pequeno porte e, muito mais ainda,
num distrito abandonado. A Sociedade trouxe ainda uma maternidade que
funcionava na Rua Boa Esperança (e que depois foi fechada) e fixou o ponto do
ônibus na padaria do centro, hoje Dias D’Ávila Delicatessem.
No
início dos anos 80 havia um administrador da estância ligado ao governo do
estado; a prefeitura de Camaçari, através do Secretário de Planejamento, José
Mascarenhas, praticamente extinguiu a Estância situando-a geograficamente, isto
é, estabelecendo seus limites com apenas duzentos metros a partir da margem do
rio. O resto pertencia ao distrito, ou seja, a Camaçari. Essa situação
esdrúxula mostrava discrepâncias tais como situar a varanda do Hotel Suez na
estância e sua cozinha no distrito. Isto gerava também dois administradores: um
do estado que só governava os duzentos metros e outro municipal para o restante
do distrito. No exemplo do Hotel, como piada dizia-se que um administrador
cuidava da varanda e outro da cozinha!
A luta
pela emancipação da Vila, não foi fácil! O primeiro obstáculo, conforme falei
acima, veio com a falta de interesse que muitos moradores demonstravam pela
emancipação, visto tratar-se de uma população onde mais de noventa por cento
era flutuante, formada por trabalhadores do Polo que vieram para passar
pouquíssimo tempo e sem a vontade de criar raízes. Alguns riam, argumentando
que Camaçari jamais abriria mãos do distrito e que lá corria dinheiro, e
dinheiro é que é importante, já que a sede começava a auferir os ganhos oriundos
de suas indústrias.
Numa
reunião que participei, o prefeito Humberto Ellery, biônico e a doze anos no poder,
quando arguido por mim sobre a emancipação, declarou:
— Meu caro Fernando, todo o filho quando
chega aos dezoito anos quer ter vida própria e, por isso contesta os pais; mas
não tem emprego nem dinheiro e, portanto, depende da família e não pode sair de
casa. Dias D’Ávila é esse filho!Não tem recursos! A cidade começa no
Entroncamento e termina na linha do trem; portanto não tem dinheiro. Uma pena!
Agradeci
seu comentário, mas contestei-o dizendo que “apesar
de tudo continuaria a lutar pela emancipação, pois preferia ser cabeça de rato a
rabo de leão”.
De 1979 a 1984 foram cinco anos de muito trabalho,
decepções, vitórias e derrotas! Algumas vezes chegamos a desanimar, mas o
otimismo de Mozart nos contagiava e recuperávamos as forças e continuávamos a
luta! Nesse período tivemos muitas reuniões, principalmente eu, Mozart, Lucas e
Gilson; nós formávamos o núcleo mais interno da Sociedade e nos juntávamos,
praticamente, em todos os finais de semana! Eram longas horas de conversas e
tentativas de encontrar estratégias capazes de nos dar um alento renovador das
esperanças. Cada semana havia um fato novo, uma expectativa, uma probabilidade
de alcançar o objetivo, mas o tempo passava e nossos castelos ruíam um atrás do
outro.
A
romaria pelos gabinetes em busca de apoio, de condições econômicas para o pretenso
município, marcaram os momentos dramáticos pelo qual passou a Sociedade Amigos
de Dias D’Ávila e seus membros. A negativa governamental dizendo que “o polo
era intocável e pertencia a Camaçari” tornavam inviáveis os objetivos dos Amigos
de Dias D’Ávila; isso também estava atrelado à má-vontade dos políticos,
principalmente os aliados de Ellery que não viam com bons olhos tal escolha. Mas
isso não esmoreceu aqueles valorosos idealistas que pretendiam envidar todos os
esforços para concretizar seu sonho. Era a luta de um punhado de homens e
mulheres, sem apadrinhamento político contra o forte governo estadual, seu
representante ACM e a prefeitura de Camaçari que já era uma força no estado.
Mas esse “grupinho” era ousado e não se deixava abater...
O
primeiro passo era estabelecer limites para o território da futura cidade!
Cumprindo
a ordem governamental de deixar o Polo Petroquímico para Camaçari, começou a
formar-se no âmago da Sociedade a ideia de anexar a Caraiba Metais que estava
sendo construída com intento de criar-se o polo do cobre. As opiniões da época
consideravam tal empresa uma utopia, um elefante branco... e aí foi de grande
valia a opinião do Dr. Raimundo Brito, que era o presidente da estatal que, com
grande boa-vontade nos recebeu e incentivou atestando que a Caraiba renderia em
ICMS uma quantia superior de um milhão de dólares mensais. Isso foi em 1983.
Sabido
isso, o segredo precisava ser ― e foi ― guardado a sete chaves; o grupo interno
apressou-se a mapear a região e ratificar os limites do município para incluir
a Caraíba em seu território. Feito isso o grupo apressou-se a procurar o IBGE
para definir as marcas limítrofes, com Camaçari, Mata de São João, Simões filho
e São Sebastião do Passé. Como se pode perceber, era uma tarefa complicadíssima,
envolvendo vários municípios; e tudo isso sem deixar que a prefeitura de
Camaçari percebesse a manobra.
E foi
assim que alguns dos “Amigos” assumiram a responsabilidade dessa ratificação e
de percorrer a região determinando as fronteiras da futura cidade. A tarefa comportava
muitos cuidados! Havia diversos interesses políticos e econômicos em jogo! Até
hoje existem críticas e insatisfações — principalmente de pessoas que não participaram
do processo e, portanto, não o conhecem — sobre o porquê de o município não ter
ficado com alguma praia, um pedaço da orla ou mais indústrias... Entretanto, o que ninguém sabe, é que a Sociedade
Amigos de Dias D’Ávila precisou trabalhar em surdina, à socapa, em silêncio
absoluto, tal a preocupação em não deixar extravasar as suas intenções para os
assessores de Ellery. Lembre-se, eram pouco mais de dez pessoas contra os dois
maiores governos estabelecidos da Bahia: O governo do estado e a prefeitura de
Camaçari.
Muitos
dos deputados que votariam a ratificação dos limites possuíam lotes na Estrada
do Coco (que ainda não existia) e interesses na orla ligados a Camaçari. A
Goes-Cohabita era detentora de grandes áreas destinadas à investimentos
imobiliários para quando a estrada ficasse pronta. Qualquer vacilo na delimitação
da área implicaria na não aprovação do projeto, que deveria, por sua vez, despertar
o mínimo rumor na opinião pública. Caso Camaçari “sequer sonhasse” com o que
estava sendo feito sem o seu conhecimento, iria por água abaixo qualquer fantasia
de emancipação. O prefeito Humberto Ellery, ligado ao comando militar da
revolução, ele próprio pertencente às forças armadas, correligionário do
governador ACM, estava no poder havia doze anos, pois não existia eleição em
áreas de segurança nacional; ele não tinha a mínima intenção, é lógico, de
deixar Dias D’Ávila libertar-se do jugo de Camaçari; na época a prefeitura
mantinha uma íntima parceria com o governo e com a Assembleia Legislativa, pois
o plano-piloto que contemplava as cidades circunvizinhas ao Polo Petroquímico
estava sendo elaborado pelo COPEC (hoje SUDIC), órgão do governo estadual; o
departamento jurídico da prefeitura prestava atenção aos mínimos detalhes que
pudessem prejudicar a cidade, que se tornaria a grande potência de hoje, abrigando
a maior obra já realizada no estado: o Polo Petroquímico.
Era a
luta do tostão contra o milhão! O poder público estabelecido, sem intenção de
abrir mão de seus interesses, contra aqueles homens ousados e imbuídos de um
sonho, sem respaldo político ou econômico!
O
projeto da ratificação, depois de elaborado pela Sociedade Amigos de Dias
D’Ávila e ser registrado no IBGE, entrou na Assembleia Legislativa pelas mãos
do falecido deputado Clodoaldo Campos, a quem nosso município muito deve. Ele
foi, na verdade, um dos poucos políticos que nos apoiou nessa luta. O projeto não
incluía em seu bojo nenhuma praia! E tampouco qualquer pedacinho de terra capaz
de suscitar uma polêmica e barrar o escopo final. Infelizmente o deputado
Clodoaldo Campos, que era do PMDB — naquela época só existia cinco partidos,
PDS, PMDB, PDT, PTB e PL — disputou as eleições de 82 concorrendo ao cargo de
suplente de senador na chapa de Waldir Pires e foi derrotado. Portanto não
retornou à Assembleia Legislativa, mas teve o cuidado de passar ao seu colega
Nestor Duarte, o líder do PMDB, o projeto que ratificava os limites e criava o
município de Dias D’Ávila.
Nestor
aguardou o melhor momento e, quando o presidente da Assembleia, deputado Luiz Eduardo
Magalhães, precisou de um acordo de lideranças para aprovar matéria do
interesse de seu partido, o PDS, procurou Nestor Duarte para uma composição e
este, em contrapartida, solicitou a aprovação do projeto de ratificação dos
limites de Dias D’Ávila. Sem relutância, pois o empenho do presidente no
momento estava centrado no projeto que provocara a tentativa de acordo, ele
aceitou. E assim foi aprovada a ratificação de limites e criação do município
por um simples acordo de lideranças e sem ir a plenário! Apesar de alguns
deputados tentarem criar obstáculos reclamando inconstitucionalidade, o
presidente, que tinha a necessidade do apoio da oposição e a autoridade
conferida por seu pai, à época grande expoente político da Bahia, defendeu com
veemência a aprovação solicitada por Nestor Duarte. Na verdade, se o projeto
tivesse ido a plenário ― o que seria difícil ― é quase certo que não teria
havido a emancipação, pois teria sido rejeitado ou engavetado pela falta de
interesse dos políticos.
Faltava
a publicação em Diário Oficial e a marcação do plebiscito. Isso foi conseguido
graças a interferência do deputado Jairo Carneiro, na época chefe de gabinete e
braço direito do governador João Durval, recém-eleito; ele enviou o texto da
Lei para o Secretário de Comunicação, Aderbal Figueiredo, natural de Mata de
São João, que o publicou imediatamente.
No dia
23 de junho de 1984, véspera de São João, foi publicada em Diário Oficial, e
lida na praça principal, onde se realizava uma festa, a Lei que ratificava os
limites da cidade e criava o município, incluindo a fabrica Caraíba Metais,
gigante multinacional (na época estatal) da produção de cobre, que dava
sustentação financeira e viabilizava a emancipação. O prefeito Humberto Ellery
não poderia fazer mais nada, a não ser reunir seu gabinete e passar uma
refinada descompostura em seus secretários por terem “dormido no ponto” em
relação ao distrito.
O
plebiscito foi marcado para o dia 25 de Novembro do mesmo ano de 1984, um
domingo. Dias D’Ávila possuía em seu cadastro eleitoral, exatamente, três mil e
quinhentos eleitores. A maior parte desses eram moradores de Salvador, veranistas
que possuíam chácaras, algumas abandonadas, outras alugadas; muitos já haviam
falecido; outros, oriundo de outros estados, teriam voltado à sua terra natal.
Eram necessários 50% dos votos mais um, ou seja, mil setecentos e cinquenta e
um votos. Era difícil!
Nesse
período Mario Padre, um dos próceres do movimento emancipatório, emprestou-me
duas bocas de alto-falantes, aqueles cornetões de ferro antigos, que montei
sobre a capota de meu Fiat 147 e saí pelas ruas pedindo votos. Realizamos mais
de 50 reuniões nas esquinas, dentro de galpões, nos bairros... afinal
conseguimos conscientizar a população e onde antes havia resistência passamos a
contar com poderosos aliados.
A
prefeitura de Camaçari, sabedora dessa dificuldade colocou, no dia marcado para
votação, alguns ônibus gratuitos e um churrasco patrocinado em Guarajuba, para
quem quisesse participar do “domingo na praia”. A partida foi programada para
antes do inicio do pleito. Como sabemos a eleição para plebiscito local não é obrigatória
e, com isso, os prepostos de Camaçari esperavam um esvaziamento e,
consequentemente, insuficiência do “quorum” para aprovar a emancipação.
A juíza
eleitoral, Dra. Marielza, de Camaçari, tentou colocar inúmeros obstáculos para
a votação, entre eles a negativa ao eleitor de poder exercer o voto com a
carteira de identidade; isso quase foi o golpe de misericórdia para as pretensões
da Sociedade, pois muitos dos eleitores não possuíam o título. Mas a Sociedade
reagiu e o advogado Mozart Pedroza, juntamente com seu colega Renato Franco,
ligou para o presidente do TRE, desembargador Ruy Trindade que, apesar de estar
passando o seu domingo em lazer, mandou chamar a juíza ao telefone (naquela
época não existia celular e isso ocorreu no QG da sociedade que era na na
padaria de Gilson, hoje Dias D’Ávila Delicatessem), e passou-lhe uma
descompostura autorizando o uso da carteira de identidade. Esse fato “salvou” a
emancipação.
A
mobilização de vários moradores foi grande! Tenho medo de citar nomes e ser injusto,
esquecendo alguém; mas não podemos deixar de mencionar algumas pessoas que se
desdobraram na trabalhosa lide e na ajuda. Além dos “Amigos de Dias D’Ávila”
tiveram grande atuação no dia do plebiscito, os seguintes: Serrador e sua mãe,
dona Todinha; Assis; Hélio Pozzi; Beth Silva; a Loja Maçônica Joir Brasileiro,
hoje Colunas do Rio Imbassay; Geraldo Cordeiro; Edmundo Magalhães; o incansável
Carlos Deiró; Moacir Duarte; Augusto Guiotti e o grupo GIF... e tantos outros que
demonstraram o espírito de luta com o qual estava imbuída a população local. Os
carros movimentavam-se pegando eleitores em todos os lugares, doentes, grávidas,
banhistas no rio, frequentadores dos bares e botecos, gente que jogava
dominó... às 16 horas, quase no fim da votação ainda faltavam muitos eleitores
e estava muito difícil cumprir o quorum. Num esforço hercúleo, fechou-se o
número de votantes em mil setecentos e setenta e cinco eleitores, que
compareceram e votaram; apenas vinte e cinco a mais do que o mínimo necessário.
A
contagem das cédulas deu-se logo após, na OCAFI. Obteve-se o quorum pela margem
descrita com apenas dezesseis votos contrários. Foi uma das maiores emoções de
que participei! Muitos choraram... vários discursaram...
Hoje, decorridos
tantos anos observo os grupos políticos loucos para conseguirem estabelecer-se
no poder, atacando aqueles que trabalharam por esse importante desfecho e que,
bem ou mal, deixaram uma cidade que se situa entre as maiores da Bahia, para
seus filhos, sua família e para o futuro. Não os questiono de minha parte e nem
quero gratidão pelo que fiz, mas àqueles que já partiram para o Oriente Eterno
dever-se-ia, pelo menos “in memoriam” serem exaltados pelos que compõe,
principalmente, as gerações mais jovens. Mas infelizmente não é isso que vemos.
A
Câmara, que levou vinte e cinco anos para fazer a primeira homenagem aos
“remanescentes” e tão pouco tem contribuído no progresso municipal, deveria,
quando nada, agraciá-los com o seu nome nas ruas e praças da cidade que
ajudaram a fazer; mas, mesmo assim, quando nomeia-se uma rua — caso raro — com
seus nomes, imediatamente acorre um batalhão de detratores que nunca estiveram
presentes na história para denegri-los e atacá-los.
Homenagem da Câmara aos
três remanescentes, José Osmar Muricy,
Fernando Gimeno e
Gilson Galvão de Sousa, em 25 de fevereiro de 2010.
Pós-emancipação
No dia 25 de Fevereiro de 1985,
ou seja, no ano seguinte e três meses após o plebiscito, foi promulgada a Lei
que emancipava o município de Dias D’Ávila. Antes disso, a Sociedade Amigos de
Dias D’Ávila — sempre ela — conseguiu através do desembargador Mário Albiani,
incluir o nome da cidade na reforma do judiciário que se realizou em dezembro
de 1984, elevando a cidade à comarca. Portanto uma curiosidade: Dias D’Ávila já
nasceu comarca, pois a sua indicação se deu antes da publicação da lei em
fevereiro de 1985. Anteriormente a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila já havia
conseguido a instalação da 25ª DP, tendo, por isso, sido a responsável por toda
a implantação da parte política (executiva), administrativa (legislativa), judiciária
e policial do município. E mesmo assim ainda não conseguiu agradar a alguns! E
mais ainda, foi através da Sociedade que foi ao Desembargador Gerson Pereira
dos Santos, na época presidente o Tribunal de Justiça e conseguiu a verba via
Instituto Pereira Faustino de administração judiciária, a construção do prédio
do Fórum que hoje funciona na Praça dos Três Poderes. Mesmo assim, não agradou
a todos...
Espero que daqui para frente
não venham mais com argumentos de que “devia ter mais industrias... ou devia
ter uma praia”. Só fala isso quem recebeu a cidade de ‘mão beijada’ e não teve
qualquer esforço para libertá-la. Críticas são muito bem vindas, principalmente
quando incluem sugestões inteligentes para acrescentar algo, dentro de
possibilidades reais e não especulações descabidas de lógica ou coerência.
Abóboras genéricas como, por exemplo, “deveriam
esperar para fazer a emancipação em outros momentos para ter mais indústrias”,
ou “porque não pegaram outras fábricas e dividiram o Polo?” ou ainda “ah,
ficamos sem nenhuma praia...”, poderiam até ser feitas, se viessem como
contribuição para tentarmos algo no futuro; nunca, entretanto como cobrança
pejorativa à memória daqueles que não mediram esforços na luta para construir
uma cidade cidadã. Na verdade, é uma falta de inteligência achar que se poderia
dividir o Polo, repartindo-o com Camaçari. Ai já deixa de ser inocência.
Não quero louros sobre minha cabeça, mas quero
o reconhecimento pelos heróis que partiram para o além, após tanta luta, muitas
vezes sob o sorriso de escárnio daqueles que não ergueram suas sagradas
“bundas” das cadeiras de sua inutilidade. Desculpem-me o desabafo, mas era
importante fazê-lo para que fique registrado que, por problemas exclusivamente
políticos, queiram manchar a memória póstuma dos que lutaram.
Isso serve de alerta ao povo
para que reconheça a história de seu município sem a “inhaca” que advém das
hostes alienadas do seu passado e, portanto, descompromissadas com o seu
futuro.
1º aniversário da emancipação. Ao microfone Dr. Mozart Pedroza e Prof. Fernando Gimeno
Prefeito Ayrton e vice Ditinho - hasteamento da bandeira 1º aniversário da emancipação
Sessão solene da Câmara - 1º aniversário da emancipação
Finalizando:
Nesse mesmo ano, 1985, o Congresso Nacional extinguiu as eleições indiretas nas
estâncias hidrominerais, nas áreas de segurança nacional e nas capitais, marcando-se
para 15 de Novembro o pleito para a escolha dos prefeitos e vereadores; seria
um mandato curto, de três anos.
Airton
Carlos Nunes, falecido, que já havia sido administrador da estância foi eleito primeiro
prefeito de Dias D’Ávila. A ele de seguiram até hoje: Dilton Bispo de Santana
(falecido antes de terminar o mandato e substituído pelo presidente da Câmara,
Claudio Cajado Sampaio, por motivo de seu vice-prefeito ter sido vítima de
doença vindo também a falecer; Claudio ficou no mandato por sete meses);
Andréia Xavier; Américo Maia, por dois mandatos consecutivos; Andréia Xavier,
por dois mandatos (no total três) e Jussara Márcia por dois mandatos completam
o ciclo até o momento.
Espero
ter contribuído com o relato que agora apresento; tentei dessa forma sanar
algumas dúvidas e esclarecer outros fatos... coloco-me à inteira disposição de
qualquer pessoa para esclarecimentos maiores, desde que sejam motivados por um
sentimento nobre e profícuo. Os que quiserem atacar a Sociedade Amigos de Dias
D’Ávila ou promoverem-se à custa do trabalho alheio, prefiro que fiquem com suas
opiniões e, para o futuro, tratem de trabalhar para não perderem o bonde da
história. Torna-se de muito mau-gosto desdenhar um fato realizado por outrem
como se fosse banal; lembra-me a fábula da raposa e das uvas: “estão verdes”!
A
todos os outros deixo aqui meu e-mail: gimeno1947@gmail.com e meu telefone 71 99168-2485
para qualquer pergunta. A todos os diretores de colégio, professores ou
estudantes, presidentes de Associações ou Grupos, Conselhos Comunitários e
outros segmentos sociais, coloco-me à disposição para eventuais palestras,
bastando para isso agendar o local, o dia e o horário.
Obrigado,
Fernando Gimeno
(Fergi Cavalca)
71 9168-2485
[1]
Fonte: Wikipédia.
[2]
Idem
[3]
Muitas fontes citam o ano como 1510. Como não existem fontes perfeitamente
confiáveis, vamos determinar a história do Caramuru juntando os fragmentos
dessa “colcha de retalhos”.
[4]
Algumas fontes dizem que o nome Catherine Du Brésil foi em homenagem a Catharina
de Medici, rainha da França na época.
[6]
idem
[7]
Em Portugal, o rei D. José I tinha por ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, que na convicção que os jesuítas eram obstáculo aos
seus planos, resolveu dar-lhes combate culpando-os da crise nas colônias,
mandou prender a todos no Brasil e os meteu em cárcere em Portugal sem que
tivessem defesa e de onde só
puderam sair em 1777, com a ascensão de D. Maria I ao trono. Dos nove mil quatrocentos e
sessenta encarcerados só restavam uns oitocentos. Em Portugal e nas
cortes da Casa de Bourbon, muitos Jesuítas foram presos ou mesmo condenados a
suplícios, como é o caso do padre Gabriel Malagrida, acusado no processo
dos Távoras. Outros ingressaram no clero secular ou em
outras ordens.
Na França, os jansenistas, galicanos e voltaireanos há muito queriam exterminar a
Companhia, para isto valeram-se do caso do Padre La Valette. Este era
procurador de uma casa de jesuítas na Martinica e deu-se
a especulações comerciais contra todas as regras da ordem, pelo que dela foi
expulso. No entanto, como devia
pessoalmente grande soma, atribuíram a dívida à Companhia que se negou a pagar.
O assunto foi ao parlamento que deu a alternativa: ou a Ordem se reconhecia
culpada das acusações ou os jesuítas seriam exilados. Apesar dos protestos do
episcopado francês e do próprio Papa, Luís XV também
expulsou a Companhia da França em 1764. Foram promotores da expulsão o ministro absolutista Choiseul e madame Pompadour, cuja escandalosa presença na corte francesa era repudiada pelo Padre
Perisseau, confessor do rei.
Em Espanha, o ministro de Carlos III, Aranda, intrigou os
jesuítas com o rei acusando-os de defenderem a independência das colônias e de
levantarem dúvida sobre a legitimidade do nascimento do rei. Mandou prender a
todos os jesuítas em 1767. Por mais que o papa pedisse, o rei nunca lhe apresentou as razões do
decreto.
Em Nápoles, o ministro Tanucci era mais forte que Fernando IV. Depois de dois anos de perseguição os desterrou para os Estados
Pontifícios. Em Parma o marquês
Tillot imperava tiranicamente e aos pedidos do papa respondeu com a expulsão
dos jesuítas em 1768. No mesmo ano o grão-mestre dos cavalheiros de Malta os desterrou da
ilha. Essas cortes juntaram-se na pressão sobre o Papado para suprimir a
Companhia, ao que resistiu Clemente XIII.
O Papa Clemente XIV, embora bem intencionado, era indeciso e fraco, cedendo às pressões dos
reis e principalmente da Espanha - através da bula Dominus ac Redemptor - obtida quase à
força pelo embaixador espanhol Moniño, órgão central de quase todas as
maquinações antijesuíticas, no período da supressão, extinguiu oficialmente a Companhia em 21 de julho de 1773. O Superior Geral da Companhia, Lorenzo Ricci, juntamente com
os seus assistentes, foi feito prisioneiro no Castelo
de Sant'Angelo, em Roma, sem julgamento prévio. Os demais foram obrigados a deixar a Ordem ao
que obedeceram.
Como Papa Clemente XIV deixou a critério dos soberanos a publicação da
bula, a czarina Catarina
a Grande os conservou na Rússia e usou a
ocasião para atrair para o seu país os membros da Companhia, gente de grande
erudição, o mesmo se deu com Frederico da Prússia, na Silésia. Na altura da supressão havia cinco assistências, trinta e nove
províncias, seiscentos e sessenta e nove colégios, duzentas e trinta e sete
casas de formação, trezentas e trinta e cinco residências missionárias,
duzentos e sessenta e três missões e mais de vinte e dois mil membros. Fonte: www.wikipedia.org.br.
[8] Segundo o próprio Pe. Camile Torrend, estas propriedades curativas das
águas e das lamas do rio Imbassay, já constavam de antigos documentos do acervo
jesuíta que pode ser, talvez, encontrado em prateleiras esquecidas e
empoeiradas do Colégio Antônio Vieira, em Salvador.
[9] A
Casa da Torre – Pedro Calmon.